Chanucá, Violência e a Internacionalização do Conflito
O último domingo, 14 de dezembro, marcou o início da celebração de Chanucá, uma festividade judaica conhecida como a Festa das Luzes. Infelizmente, a data também foi marcada por um trágico evento: uma agressão em Bondi Beach, em Sydney, na Austrália, que resultou em ferimentos e que as autoridades classificaram como um ataque direcionado à comunidade judaica.
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Este incidente se insere em um contexto mais amplo de aumento da violência contra judeus em diversos lugares desde o final de 2023, em um período que também viu um aumento alarmante da islamofobia em vários países, especialmente na Europa. Esses fenômenos revelam como o conflito entre Israel e Palestina não se limita à região, mas se internacionaliza, e com ela, diferentes formas de violência.
A Complexidade do Conflito Israelo-Palestino
O conflito entre Israel e Palestina é frequentemente descrito como um “conflito”, mas é crucial entender que se trata de um confronto de interesses, crenças, narrativas históricas e da perpetuação de um ciclo de violência – e não de um embate simétrico entre dois lados com condições equivalentes de luta.
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Diferentemente das grandes guerras internacionais do século XX, os conflitos armados contemporâneos costumam ocorrer em territórios mais limitados, como no caso de Israel e Palestina. A palavra “conflito” deve ser utilizada com cautela, reconhecendo a complexidade das dinâmicas envolvidas.
A Internacionalização da Violência Cultural
A condenação das práticas do Estado de Israel na Palestina, especialmente na Faixa de Gaza desde o final de 2023, tem gerado mobilizações ao redor do mundo, tanto por parte de governos quanto da sociedade civil, diante das graves violações de direitos humanos contra a população palestina, incluindo milhares de crianças.
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Essas mobilizações são não apenas justificadas, mas necessárias para pressionar por mudanças efetivas. No entanto, elas podem se transformar em violência cultural quando passam a mobilizar vocabulários, imagens e narrativas moldadas por estereótipos e preconceitos históricos contra judeus, culpando coletivamente judeus pelas ações do Estado de Israel.
Um processo semelhante ocorre em relação à prática da islamofobia, associando muçulmanos a grupos armados e práticas denominadas terroristas.
O Impacto da Internacionalização
A propagação de discursos violentos, que reproduzem estereótipos e preconceitos históricos, compromete a capacidade da sociedade internacional de proteger civis e pressionar por mudanças concretas. Ao invés de reduzir a violência, essa internacionalização produz novas vítimas, reforça narrativas de ódio e aprofunda lógicas de inimizade.
O caso de Ahmed al Ahmed, um muçulmano que desarmou um agressor em Bondi Beach, ilustra a complexidade da situação, onde a internacionalização da violência não oferece respostas práticas a quem sofre diretamente com o conflito.
Conclusão
O assassinato de Wadea al-Fayoume nos Estados Unidos em 2023 e de outras pessoas, como o caso de Bondi Beach, perpetua ódio, extremismos e narrativas dualistas. Volvemos à fala da ativista palestina: apoiar o fim da violência exige que a sociedade internacional desengaje de discursos violentos.
A atuação internacional em defesa dos direitos humanos e da paz não pode se sustentar na propagação de estereótipos, preconceitos históricos ou narrativas que desumanizam coletivos inteiros. Ao invés de interromper o conflito, essa internacionalização produz novas vítimas, desloca o foco das violações concretas e fragiliza justamente aqueles que mais precisam de atenção, solidariedade e ação internacional efetiva.
