Recentemente, observei um padrão desconcertante em minhas decisões. Frequentemente, minhas escolhas não são o resultado de um processo racional. Não analiso alternativas, confronto cenários ou confronto os resultados. Em vez disso, sinto que a decisão já foi tomada internamente, e uso minha capacidade intelectual para racionalizá-la.
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Essa percepção surgiu após uma conversa com um amigo sobre pesquisas que indicam que nosso cérebro pode “decidir antes de nós” agirem.
A Verdade na Piada
Essa observação se manifestou ainda mais durante um processo de divórcio, onde a visão do outro lado sobre os mesmos fatos era radicalmente diferente – e aparentemente irresolúvel. Essa experiência me inspirou a relembrar uma piada contada por um rabino que admiro, e me levou a escrever este texto.
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A história é a seguinte: uma mulher acredita que está morta, e seus amigos a levam a um psicólogo, convencidos de que ela está enlouquecendo. O psicólogo, buscando uma abordagem lógica, pergunta: “Pessoas mortas sangram?”. Ela responde que não.
Então, o psicólogo usa uma agulha para furar o dedo dela, e, claro, sai uma gota de sangue.
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A mulher, impressionada, exclama: “Uau… olha só… não é que os mortos sangram!”. Apesar de ser uma piada, a história revela uma verdade fundamental: poucas pessoas mudam de ideia quando confrontadas com a lógica ou com argumentos irrefutáveis.
Crenças e a Resistência à Lógica
Quando as crenças são profundamente enraizadas, a evidência contrária se torna, na verdade, um alicerce para reforçar essa “verdade”. A maioria das pessoas não chega às suas crenças através da lógica. Por que, então, abandonar essas crenças usando a lógica?
Essa questão se aplica a diversas áreas, como política, religião e hábitos autodestrutivos. E, talvez, especialmente, às grandes escolhas de vida: com quem nos relacionamos, de quem nos separamos, o que aceitamos e o que sabotamos.
Muitos de nós, particularmente aqueles que são articulados e se orgulham de sua capacidade intelectual, ficamos surpresos ao perceber que não conseguimos usar nossos argumentos bem construídos para convencer os outros, fazer escolhas melhores ou, simplesmente, mudar de ideia.
Nossas crenças muitas vezes servem como uma forma de lidar com uma realidade que não corresponde às nossas expectativas. É uma adaptação, por vezes inadequada, da realidade para nos sentirmos seguros, bem-sucedidos e confiantes.
A Busca por Segurança
Uma crença rígida não existe para ser “verdadeira”. Ela existe para nos proteger de algo com que não sabemos lidar: vergonha, rejeição, vulnerabilidade, sensação de fracasso, medo de solidão ou medo de não sermos suficientes.
É lógico que a lógica não funcione nesse contexto. Quando tentamos “tirar” uma crença de alguém com argumentos, não estamos apenas mexendo em uma ideia, mas sim em um mecanismo de sobrevivência. É o alcoólatra que “consegue parar quando quer”, ou o traído que “não viu nada” porque ver a destruição da vida toda seria insuportável.
É o sujeito que diz que “não acredita em amor” depois de ter sido esmagado por uma relação. Pode furar o dedo dessa pessoa mil vezes, mas ela ainda dirá: “Tá vendo? É exatamente por isso que eu penso assim”.
A Solução: Segurança e Aceitação
Se uma crença rígida é uma forma torta de nos sentirmos seguros, a solução não é mais o argumento. É mais segurança. Não é: “Deixa eu te explicar por que você está errado”. É: “Deixa eu tornar suportável a realidade que você está evitando”.
Quando alguém se sente realmente seguro – visto, acolhido, não atacado – a crença defensiva perde sua função. A pessoa não precisa mais dela tanto quanto antes. E, então, quem sabe, a lógica finalmente tem chance de entrar.
Seria ingenuidade pensar que somos diferentes.
Reflexão Final
Portanto, deixo-vos com a seguinte pergunta: quais das nossas crenças e verdades não têm eco na realidade e são distorções que fazemos para vivermos com nós mesmos? Como deveríamos endereçá-las?
