Campanha do Governo Federal de 2025 aborda prevenção do HIV e acesso desigual

Estudo aponta desafios na comunicação da PrEP e PEP, com foco em grupos de alta renda. Pesquisa do Ims-Uerj e Fiocruz revela apagamento de populações vulneráveis na comunicação da Aids

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(Imagem de reprodução da internet).

Prevenção ao HIV: Desafios na Comunicação e Acesso às Profilaxias

Desde o surgimento das campanhas de prevenção ao HIV, pesquisadores de comunicação, sociologia e saúde pública têm estudado a produção, difusão e circulação de materiais informativos como folders, cartilhas e mídias sociais, analisando como diferentes grupos sociais os interpretam.

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O uso de estratégias de comunicação massiva e marketing, voltadas para a divulgação de tecnologias de prevenção, é uma prática comum em ações de saúde pública. A análise do alcance e da necessidade de aprimoramento dessas peças de comunicação é fundamental para otimizar as estratégias de prevenção.

Atualmente, as políticas de controle da Aids focam na identificação precoce e tratamento de pessoas infectadas, visando reduzir a circulação do HIV na população. Isso inclui a expansão e diversificação da oferta de testagem, além das profilaxias pré e pós-exposição (PrEP e PEP) ao vírus HIV.

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A PrEP envolve o uso regular de antirretrovirais antes da exposição ao HIV, enquanto a PEP é utilizada em casos de acidente profissional, violência sexual ou sexo desprotegido, até 72 horas após a exposição.

No entanto, a divulgação dessas estratégias, especialmente a PrEP e a PEP, apresenta desafios. Um estudo realizado pelo Instituto de Medicina Social da Uerj e pelo Instituto Oswaldo Cruz da Fiocruz, investigou os simbolismos de materiais produzidos por instituições governamentais e pelo movimento social do Rio de Janeiro, analisando também as concepções de profissionais de saúde e gestores do Ministério da Saúde.

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Essa pesquisa, realizada entre 2019 e 2021, com usuários, profissionais e gestores de programas municipais, revelou que as estratégias de comunicação frequentemente começam com as equipes de profissionais de saúde, que, devido à alta rotatividade na rede pública, são consideradas um “trabalho de formiguinha”.

Além disso, o estudo identificou um foco na dimensão clínica das profilaxias, com centralidade na figura do médico e no uso de ferramentas digitais. Contudo, as implicações da PrEP e da PEP na sexualidade não são abordadas nas mensagens visuais e de texto.

A comunicação das estratégias preventivas parece priorizar a disponibilidade dos insumos biotecnológicos, como medicamentos, testes e preservativos. Essa abordagem discreta é protagonizada por múltiplas vozes, o que representa um desafio para os atores e instituições responsáveis pela promoção das profilaxias.

Os desafios da expansão das profilaxias preventivas são agravados pelas disparidades no acesso. Um relatório de 2023 revelou que o uso da PrEP predomina entre homens gays e bissexuais com alta/média renda e escolaridade, enquanto populações igualmente vulneráveis, como mulheres transexuais, trabalhadoras sexuais, adolescentes, gays/HSH de baixo poder aquisitivo e de raça/cor parda e preta, têm menor demanda.

O acesso à PEP também é concentrado entre homens gays e outros HSH cisgênero, com um pequeno incremento entre homens transexuais e um declínio entre mulheres cisgênero. Essa situação pode ser atribuída a um certo apagamento da Aids como problema social, agravado pela pandemia de COVID-19 e pelo recrudescimento do discurso conservador.

O estudo visa estimular a reflexão sobre as implicações da fragilização da comunicação pública da resposta à Aids para a efetivação do direito à prevenção, e indagar sobre as atuais perspectivas. A campanha de prevenção do governo federal lançada no período do carnaval de 2025 retratou diversos contextos, interações sexuais e afetivas e focalizou na oferta de diversos insumos preventivos e suas possibilidades de combinação.

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