Marcha e encontro internacional unem participantes para comemorar a ancestralidade e combater o racismo religioso.
O batuque gaúcho, tradição religiosa de matriz africana com origens no século XIX, retornará às ruas de Porto Alegre neste sábado (16). Na data, a Capital receberá a 2ª Marcha dos Quimbandeiros e a 18ª edição do Encontro Internacional de Quimbandeiros, dois eventos que reunirão praticantes, lideranças e apoiadores para celebrar a ancestralidade, fortalecer a organização comunitária e denunciar o racismo religioso.
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Tradicional na Rio Grande do Sul, representa a mais antiga matriz afro-brasileira, conservando princípios definidos antes da abolição da escravidão e não incorporando o sincretismo religioso. Sua trajetória no estado está associada a Custódio Joaquim de Almeida, líder espiritual de origem africana que chegou ao Brasil escravizado e estabeleceu, em Porto Alegre, a nação Oyã. Seus princípios ainda são observados nos terreiros gaúchos.
Na capital, a capoeira é praticada em diversas vertentes, incluindo Benguela, Jeje, Cabinda, Ijeú, Nagô e Angola, com terreiros situados principalmente nas áreas periféricas da cidade.
Ricardo de Oxum, líder com mais de três décadas dedicado ao batuque e articulador de uma rede de casas de fé no Brasil, Uruguai e Argentina, é o organizador dos dois eventos. Ele explica que “a Marcha dos Quimbandeiros foi criada como um grito de resistência”.
Apesar do elevado número de adeptos no estado, os terreiros continuam a lidar com casos de preconceito e violência. “O Rio Grande do Sul apresenta grande intolerância religiosa, intenso racismo religioso e muito preconceito. A polícia ainda ordena o desligamento dos sistemas de som. A polícia ainda não compreende o que pode e o que não pode fazer”, declara ele.
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Para o pai Ricardo, a marcha representa um gesto público de afirmação: “este grito de que estamos aqui e vamos continuar aqui”, porquanto a religião de matriz africana e Exu, que alcançou tal magnitude, fazem parte da construção cultural do nosso Brasil.
Além da denúncia contra o racismo religioso, o evento visa ampliar o reconhecimento do batuque como parte fundamental da história afro-brasileira. “Fortalecer a visibilidade e mostrar que estamos vivos e que somos resistentes, mostrar que estamos honrando a nossa ancestralidade, mostrar que a gente continua mantendo todo o legado que nos foi deixado dentro da cultura afro”, ressalta Pai Ricardo.
Ele ressalta que o objetivo é também dialogar com as autoridades. “Demonstrando ao poder público a força da religiosidade de matriz africana, no que tange unicamente à profissão de fé, e nada mais”, declara. Apesar de estar em sua segunda edição, acredita que a marcha tende a crescer. “Ainda está engatinhando, mas tenho certeza que vai tomar futuramente grandes proporções em todo o estado.”
A programação do dia 16 será dividida em dois momentos: a 2ª Marcha dos Quimbandeiros ocorrerá das 14h às 16h, com saída da Usina do Gasômetro e chegada no Largo Zumbi dos Palmares. À noite, a partir das 20h, acontece o 18º Encontro Internacional de Quimbandeiros, na Rótula da Quimbanda, na Avenida Dante Angelo Pilla, bairro Rubem Berta.
Este ano, a mobilização presta homenagem a Pai Paulinho de Xoroquê, liderança da Quimbanda, Umbanda e Candomblé, falecido em junho. “Pai Paulinho Xoroquê foi quem desbravou as fronteiras aqui no Sul nos anos 1980. Foi um dos primeiros a ‘dar a cara a tapa’ pelo nosso povo, um dos primeiros a dar visibilidade à nossa religião, um dos primeiros a levar a religião do Sul para outros estados”, relembra Pai Ricardo.
Ele complementa que a trajetória de Paulinho teve um papel fundamental na expansão da fé no estado. “Quem é do Rio Grande do Sul e faz parte do culto de Exu deve muito a Pai Paulinho Xoroquê, deve muito à sua história, porque foi ele quem ‘limpou o caminho’ para que a gente pudesse hoje estar trilhando com um pouco mais de segurança.”
A cerimônia de homenagem ocorrerá às 19h na Rota da Quimbanda. Estão sendo esperadas mais de 30, 40 caravanas de todo o estado, além da Argentina e do Paraguai, para homenagear Pai Paulinho Xoroquê, conforme informa o organizador.
A Prefeitura de Porto Alegre apoia a realização dos eventos. A pasta é liderada por Liliana Cardoso, a primeira mulher negra e a primeira representante do movimento tradicionalista a ocupar o cargo.
O evento também recebe atenção nacional. O diretor artístico da escola de samba Portela participará da programação para conhecer a marcha e coletar referências para o desfile de 2026, que terá o batuque gaúcho como tema.
A mobilização representa um avanço para que o batuque seja reconhecido não apenas como tradição regional, mas como elemento estruturante da história e da identidade afro-brasileira do país.
Fonte por: Brasil de Fato
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