O Sindicato dos Servidores da Justiça do Rio Grande do Sul (Sindjus/RS) realizou a inauguração de sua nova sede e identidade visual. A ação representa a retomada das operações após os prejuízos causados pelas inundações de 2024 e reforça o papel do sindicato como local de organização social.
A revitalização visual e estrutural da organização engloba um processo mais abrangente de recuperação pós-enchentes. Unindo a reconstrução física, a arte urbana e novas estratégias de comunicação, a entidade visa fortalecer sua presença nas disputas sociais e sua atuação como local de encontro e mobilização coletiva.
A sede, situada em Porto Alegre (RS), sofreu alagamento de quase um metro durante a enchente do ano passado, ocasionando a perda de mobiliário e a necessidade de uma reforma abrangente. O coordenador-geral do Sindjus, Osvaldir Rodrigues da Silva, declarou que a situação foi de “tristeza” ao observar a destruição na sede e no entorno. Ele relata que a sede está “quase que totalmente reformada”, restando apenas ajustes no topo do edifício.
O líder explica que a renovação da fachada fazia parte de um projeto mais amplo de reposicionar a imagem do sindicato. “A ideia era dar uma visão diferente para este sindicato, começando pela fachada. Não era só colocar o nome da entidade, mas aproximar mais a entidade dos movimentos de rua, dos movimentos sociais”, afirmou. Ele também relaciona o processo de reconstrução à conjuntura política, criticando a falta de ações do poder público frente aos riscos de novas enchentes. “Mesmo depois de 2024, não houve soluções para as comportas ou casas de bombas. Em maio de 2025, a cidade quase foi inundada de novo”, apontou. Para ele, o sindicato deve “continuar denunciando esse desgoverno que está de braços cruzados” e cobrar a destinação correta dos recursos.
A arte como instrumento político.
O projeto da nova fachada foi elaborado pelo artista Felipe Reis, que já conversava com o sindicato sobre a criação da obra há alguns anos. Ele explica que sua produção “é voltada para a luta” e que, em trabalhos de natureza social, emprega um estilo que tem aprimorado ao longo de anos: o construtivismo russo.
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É uma arte minimalista, que se conhece dos cartazes russos, das décadas de 40, 50 e 70. Era mais uma arte de luta popular, dos trabalhadores e do povo, detalhou. Felipe já utilizou o estilo em outras intervenções, como para o Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região, e afirma que a nova fachada “fala por si só”.
O artista também destacou a relevância da autonomia no processo criativo. “É importante quando eu tenho também um ponto de vista que é meu, respeitado”, declarou. Ele mencionou como exemplo um trabalho em desenvolvimento para um guia ilustrativo de cozinhas solidárias no Rio Grande do Sul. “A parte criativa é minha, o texto é de vocês, porque na verdade as pessoas me chamaram para criar.”
Marca renovada e “portas abertas”.
A nova identidade visual do Sindjus foi desenvolvida pela equipe de Comunicação e implementada pela Agência Agulha. Yuri Nery, gestor de Projetos da agência, afirma que a proposta manteve o símbolo original, mas incorporou formas, cores e composições que transmitem acolhimento e proximidade. Ele complementa que a resistência coletiva, visível em muros e fachadas de Porto Alegre, influenciou a criação e dialoga com o trabalho de Felipe Reis.
As cores também receberam significados específicos. O vermelho representa a “coragem coletiva”, e o amarelo ocre “o pertencimento, a diversidade e a construção de cada pessoa que faz o ‘nós’ e mantém vivo o Sindjus”.
O diretor de Comunicação, Marco Velleda, acredita que o sindicato deve manter uma posição aberta ao diálogo. “Precisamos observar todo o nosso entorno, com as portas abertas, não apenas para a nossa categoria, mas para todos que vêm até aqui com a intenção de lutar e mudar essa sociedade”, afirmou.
Para ele, a fachada elaborada por Felipe Reis será utilizada em camisas, bandeiras e outros materiais de uso interno e externo. Velleda ressaltou a importância de que a obra tenha sido produzida “pela mão de um companheiro negro”, enfatizando que “não são apenas os brancos que fazem a alegria do povo, é o nosso povo que faz essa alegria”.
Entre as próximas propostas, está a transformação da rua onde fica a sede em um espaço de referência para trabalhadores e trabalhadoras, principalmente no Dia do Trabalhador. Velleda também defende ampliar a abertura do prédio para atividades artísticas e parcerias com movimentos como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindJor/RS) e veículos de comunicação popular, como o Brasil de Fato. “O objetivo final é transformar a sociedade para que seja muito mais justa, igualitária e socialista”, declarou.
Fonte por: Brasil de Fato