Ana Paula Simões alerta sobre riscos do uso de tirzepatida em atletas. Médico esportivo detalha impactos no desempenho, recuperação e risco de lesões. Clubes negam relação com aumento de lesões em 2025
O uso do medicamento tirzepatida por atletas de alto rendimento exige cautela rigorosa e acompanhamento médico especializado, conforme alerta a médica do esporte e cirurgiã ortopédica Ana Paula Simões. Em entrevista ao Poder360, a especialista detalhou os possíveis impactos da substância sobre desempenho físico, recuperação muscular e o risco de lesões no contexto esportivo.
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A discussão ganhou destaque após a confirmação, em 12 de dezembro de 2025, de que dois jogadores do elenco profissional receberam o medicamento. O clube negou qualquer relação entre o uso do remédio e o aumento de lesões registrado na temporada de 2025, afirmando que o uso foi determinado após avaliações clínicas individualizadas e seguindo protocolos.
Segundo Ana Paula, a tirzepatida não provoca lesões musculares de forma direta, mas pode criar um ambiente fisiológico desfavorável quando utilizada em atletas submetidos a alta carga de treino e competição. Isso se deve principalmente à redução do apetite e da ingestão energética, efeitos comuns do medicamento. “O Mounjaro não é um medicamento neutro do ponto de vista esportivo.
Em atletas, seu uso pode comprometer potência, força, resistência e recuperação e aumentar o risco de lesão se não houver controle rigoroso de ingestão energética, proteína, treinamento de força e monitoramento médico especializado”, afirmou.
A médica explica que a explosão muscular –capacidade fundamental em esportes como o futebol– depende de massa muscular funcional, integridade das fibras musculares do tipo II e adequada disponibilidade energética. Estudos de composição corporal com tirzepatida indicam que de 25% a 40% da perda de peso pode acontecer à custa de massa magra, a depender do protocolo adotado. “Essa perda, associada à redução da ingestão calórica, pode comprometer a taxa de desenvolvimento de força, a potência muscular e o recrutamento neuromuscular rápido. “Em esportes que exigem arranque, sprint, salto e mudança de direção, isso pode sim reduzir a explosão”, disse.
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Ana Paula afirma que a queda de performance pode ser percebida inclusive no curto prazo, sobretudo nas primeiras semanas de uso do medicamento. Entre os efeitos relatados em estudos clínicos estão náusea, saciedade precoce, fadiga e redução significativa da ingestão calórica. “Mesmo antes de uma perda muscular mensurável, o atleta pode apresentar deficit energético funcional e queda de rendimento”, declarou.
Segundo a especialista, a tirzepatida também pode afetar a resistência física ao longo de partidas ou competições, especialmente em esportes intermitentes. A menor ingestão de carboidratos e a reposição inadequada de glicogênio muscular podem levar à queda de rendimento no 2º tempo, à redução da capacidade de repetir sprints e à fadiga precoce.
Outro ponto de atenção é a recuperação entre treinos e jogos. A médica explica que a recuperação muscular depende de energia suficiente, ingestão adequada de proteínas e controle da resposta inflamatória. A redução do apetite pode dificultar o cumprimento dessas exigências fisiológicas, favorecendo quadros de sobrecarga e acúmulo de fadiga.
Ela destaca ainda que a redução espontânea de 500 a 1.000 calorias por dia, observada em usuários do medicamento, pode ser incompatível com a rotina de atletas de alto rendimento. “Isso pode levar a queda hormonal, redução da imunidade, piora da performance e aumento do risco de lesão”, afirmou, citando quadros associados à deficiência energética relativa no esporte.
Para Ana Paula, o principal risco do uso do Mounjaro em atletas está na falta de controle rigoroso. “O medicamento não causa lesão muscular direta, mas cria um ambiente fisiológico mais vulnerável, especialmente quando há deficit energético crônico, perda de massa muscular e recuperação inadequada”, disse.
Ela afirma que atletas não devem utilizar tirzepatida com objetivos estéticos ou de controle de peso sem acompanhamento conjunto de medicina esportiva e nutrição. Em esportes de alta intensidade, segundo a médica, a análise de risco-benefício deve ser feita com extremo critério.
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