Ambipar entra em recuperação judicial após valorização expressiva

‘Penny stock’ valoriza 700% em um ano: companhia surge na bolsa com incógnitas.

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(Imagem de reprodução da internet).

A Trajetória da Ambipar: Do Crescimento à Recuperação Judicial

A Ambipar (AMBP3) iniciou sua jornada na bolsa de valores em um período de grande otimismo, marcado pela pandemia e pelos baixos juros que impulsionaram o investimento em renda variável. Diversas companhias também buscaram o IPO (Initial Public Offering) na B3, e a Ambipar conseguiu levantar mais de R$ 1 bilhão em seu lançamento. A empresa realizou uma série de aquisições em um curto espaço de tempo, totalizando mais de 40, demonstrando uma estratégia de expansão agressiva.

Listagem na Bolsa de Nova York e Oscilações de Preços

Em 2023, a Ambipar também listou uma subsidiária na Bolsa de Nova York, a Ambipar Response, especializada em gerenciamento de crises ambientais. No entanto, o desempenho da ação AMBP3 no mercado brasileiro chamou a atenção dos reguladores, com múltiplos spikes de preço que multiplicavam o valor da ação em questão de dias. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) questionou a empresa sobre essas oscilações, mas a Ambipar alegava que não havia eventos relevantes que justificassem as variações.

Participações de Executivos e Ameaça de Retirada da Bolsa

O CEO da empresa, Tércio Borlenghi Junior, e a gestora Trustee, Nelson Tanure, aumentaram suas participações no capital social da Ambipar no ano passado. Borlenghi já detinha mais de 70% das ações, e o “free float” (percentual de ações em circulação) era menor que 20%, o que quase levou a empresa a ser retirada da bolsa. A CVM, no entanto, dispensou a Ambipar de realizar uma Oferta Pública de Ações (OPA).

Desafios Financeiros e Recuperação Judicial

No início de 2025, a Ambipar enfrentou uma situação de imprevisibilidade no mercado, com a B3 colocando AMBP3 em leilão diversas vezes. Apesar de ser uma companhia aberta, seus principais números eram públicos, e a dívida da empresa continuava a crescer, atingindo R$ 10 bilhões em um cenário de Selic a 15%.

Tutela Cautelar e Questionamentos sobre a Dívida

Em 25 de setembro, a companhia obteve, na Justiça, a aprovação de uma tutela cautelar antecedente, visando proteger-se de possíveis credores. A empresa justificou a medida pelos “impactos financeiros negativos” decorrentes de operações com derivativos ligados aos green bonds (títulos verdes) emitidos pelo grupo. A disputa envolvia a cobrança de chamadas de margem em contratos de derivativos com o Deutsche Bank, que teriam chegado a mais de R$ 200 milhões.

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Transparência e a Dúvida sobre o Caixa da Empresa

Apesar de ter liquidez abundante – quase R$ 5 bilhões em disponibilidades, incluindo R$ 2,6 bilhões em caixa e R$ 2,1 bilhões em um fundo de direito creditório – a Ambipar gerou dúvidas sobre onde estava o dinheiro da empresa. A falta de transparência sobre o FIDC bilionário e seu uso, com apenas uma linha nas notas explicativas mencionando-o, intensificou a desconfiança.

Decisão Final: Recuperação Judicial

Menos de um mês após a tutela cautelar, a Ambipar entrou em recuperação judicial, com uma dívida de R$ 10,7 bilhões. As ações da empresa perderam valor e agora são negociadas a menos de R$ 0,50, com o valor da companhia caindo para menos de R$ 1 bilhão.

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