A Havana desafia as sanções dos EUA e promete manter os programas de cooperação médica em nível global
Mais de 24 mil profissionais de saúde cubanos continuam trabalhando em quase 60 países, apesar da pressão de Washington.

O governo cubano reiterou que suas missões médicas no exterior continuarão operando, apesar das novas sanções anunciadas pelos Estados Unidos.
O ministro das Relações Exteriores cubano, Bruno Rodríguez, através de sua conta oficial no X, afirmou que a ilha “continuará fornecendo serviços” e enfatizou que esses programas são “iniciativas de cooperação legítimas”. Ele também descreveu as medidas dos EUA como prova de que “imposição e agressão são a nova doutrina de política externa” sob a administração do ex-presidente republicano Donald Trump.
Mais de 24 mil profissionais de saúde cubanos atuam atualmente em cerca de 60 países. Esse esforço de solidariedade tem sido um pilar central da política externa de Cuba desde a vitória da Revolução Cubana, que transformou a cooperação médica em uma marca da diplomacia da ilha.
Há décadas, Cuba enviou mais médicos para o exterior do que a Organização Mundial da Saúde (OMS). Na maioria dos casos, a ajuda é oferecida gratuitamente, especialmente para países de baixa renda. Na última década, Havana começou a receber compensação econômica por serviços prestados em países mais ricos que podem arcar com os custos. Os médicos cubanos nessas missões recebem um salário local superior aos salários na ilha, mantendo seus salários em Cuba.
A participação nas brigadas médicas é voluntária e uma parte do pagamento do país anfitrião é destinada diretamente ao sistema de saúde público de Cuba, auxiliando na sua manutenção diante das restrições impostas pelo bloqueio dos Estados Unidos.
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A resposta de Havana ocorreu após o Secretário de Estado americano, Marco Rubio, anunciar uma nova rodada de sanções que visavam funcionários de países africanos, sem especificar quais, além de representantes do Brasil e Granada, acusados de facilitar contratos com serviços médicos cubanos.
O senador Rubio afirmou, em comunicado oficial, que o Departamento de Estado age contra “oficiais cúmplices com o regime cubano” envolvidos na organização e manutenção das brigadas. As sanções também visaram ex-funcionários da Organização Pan-Americana da Saúde (PAHO) e funcionários brasileiros ligados a um programa federal que trouxe milhares de médicos cubanos para áreas remotas e carentes.
Reações do Brasil
Em resposta às sanções impostas a autoridades brasileiras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o bloqueio de Washington a Cuba e defendeu o programa médico.
Em um evento em Goiana, no nordeste do Brasil, Lula afirmou: “É importante saber que nosso relacionamento com Cuba é de respeito por um povo que tem sido vítima de um bloqueio por 70 anos.”
Ele criticou o impacto humanitário do bloqueio, afirmando: “Atualmente, eles estão enfrentando dificuldades sob um bloqueio sem justificativa. Os Estados Unidos lutaram uma guerra, perderam. Aceite que perdeu e deixe os cubanos viverem em paz. Não continue tentando controlar o mundo.”
O ministro da Saúde Alexandre Padilha também denunciou as sanções, classificando-as como um “ataque injustificável” a um programa que “salva vidas”. Ele ressaltou que médicos cubanos têm trabalhado há tempos em regiões brasileiras onde médicos locais frequentemente se recusam a servir devido a condições difíceis e falta de infraestrutura.
Em X, Padilha escreveu que o Brasil não se curvará a “aqueles que perseguem as vacinas, os pesquisadores, a ciência e agora dois dos principais responsáveis pelo programa durante meu primeiro mandato como Ministro da Saúde: Mozart Sales e Alberto Kleiman”.
Um símbolo de cooperação internacional.
Há mais de meio século, Cuba desenvolveu um extenso programa de cooperação médica que se tornou um símbolo internacional. As brigadas médicas cubanas responderam a desastres naturais e crises de saúde pública em todo o mundo.
A ilha também promoveu uma iniciativa abrangente de treinamento para jovens de comunidades vulneráveis no exterior. Através da Escola Latino-Americana de Medicina (ELAM), mais de 73 mil estudantes estrangeiros se formaram como médicos comprometidos em servir suas comunidades.
A cooperação cubana também auxiliou na construção de sistemas de saúde em países como Argélia, Haiti e Venezuela. Em Haiti, por exemplo, mais de 6.000 médicos cubanos prestaram 36 milhões de consultas e salvaram cerca de 429 mil vidas desde 1998.
Em 2005, Cuba criou a Brigada Médica Internacional Henry Reeve, especializada em resposta a desastres e epidemias. O grupo atuou contra o Ebola na África Ocidental, auxiliou vítimas de terremotos e furacões, e apoiou a resposta à COVID-19 em mais de 20 países.
O programa Operation Miracle recuperou a visão de mais de 4 milhões de pessoas em 34 países sem custo algum, evidenciando o papel da medicina cubana como instrumento de solidariedade e diplomacia.
Fonte por: Brasil de Fato