A disparidade no acesso à creche é um problema que se inicia cedo e demanda maiores investimentos federais, segundo especialista
O subfinanciamento e a ausência de colaboração entre os entes federativos dificultam o progresso nas áreas de interesse.

A disparidade no atendimento entre os 20% mais pobres e os 20% mais ricos do país aumentou de 22 para 29,4 pontos percentuais entre 2016 e 2024, conforme apurado por uma pesquisa do Todos pela Educação com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Censo Escolar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Atualmente, apenas 41,2% das crianças de até 3 anos frequentam a creche, inferior à meta de 50% estabelecida no Plano Nacional de Educação (PNE).
As crianças mais pobres, que necessitam da maior assistência do governo, frequentemente têm esse direito negado pelo poder público, afirma Ivan Gontijo, gerente de Políticas Educacionais da entidade.
A pesquisa indica que as crianças mais ricas possuem 60% de acesso à creche, enquanto as mais pobres têm 30,6%.
“Isso é muito preocupante porque observamos que as desigualdades começam na infância no Brasil”, lamenta o especialista.
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Conforme Gontijo, o não cumprimento da meta do PNE se deve a três fatores primários: falta de financiamento adequado, disparidades na alocação de recursos e a vulnerabilidade institucional dos municípios, responsáveis pela sua implementação.
O estudo aponta, por exemplo, que São Paulo atingiu 56,8% de cobertura, enquanto o Amapá, 9,7%.
O governo federal deve direcionar mais recursos para aqueles que necessitam, a fim de reduzir as desigualdades que persistem em um país de dimensões como o Brasil. Não há dúvidas de que o caminho é justamente com estudos e análises que identifiquem as falhas entre os gestos municipais, estaduais e federais.
Para a gerência da Todos Pela Educação, os impactos são significativos, principalmente no desenvolvimento cerebral na primeira infância, entre os anos de zero e seis. O estudo aponta que 2,3 milhões de crianças até três anos, que Gontijo denomina de “primeiríssima infância”, estão fora da creche devido a dificuldades de acesso, como a falta de vagas ou de unidades próximas.
A creche é um ambiente onde as crianças se alimentam de forma mais adequada, sobretudo as mais carentes, recebem interações essenciais para o seu desenvolvimento motor, cognitivo e emocional, e tudo isso com profissionais qualificados. Quanto mais recursos forem disponibilizados para ampliar o acesso e a qualidade do atendimento, mais essas crianças se desenvolverão plenamente ao longo de suas vidas, afirma ele.
Fonte por: Brasil de Fato