A derrota eleitoral de Milei reflete um escândalo de corrupção e prejudica seus planos de obter uma maioria no parlamento

O peronismo de centro-esquerda obteve mais de 47% dos votos; especialistas consideram que o escândalo de corrupção foi determinante.

08/09/2025 15:12

3 min de leitura

A derrota eleitoral de Milei reflete um escândalo de corrupção e prejudica seus planos de obter uma maioria no parlamento
(Imagem de reprodução da internet).

A contundente derrota do partido do presidente da Argentina, Javier Milei, para a oposição peronista nas eleições legislativas provinciais de Buenos Aires deste domingo (7) reflete o escândalo de corrupção que envolveu seu governo, segundo analistas argentinos entrevistados pelo Brasil de Fato.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O resultado notavelmente flexível sugere que Milei enfrentará obstáculos para alcançar a maioria parlamentar nas eleições nacionais de 26 de outubro.

O peronismo de centro-esquerda, representado pela coalizão Força Patriota, obteve mais de 47% dos votos, em confronto com 33,8% da governista A Liberdade Avança (LLA), conforme dados de 94% das urnas apuradas, de acordo com o órgão eleitoral provincial. Milei contava com um bom desempenho nesse pleito e com um aumento expressivo de sua base no Congresso na eleição subsequente, visando implementar sua agenda ultraliberal sem a necessidade de alianças.

Esta não era a eleição esperada pelo peronismo. Há dois meses, a preocupação era não perder de muito. Diz a socióloga Lucia Wegelin da Universidade de Buenos Aires. Essa vitória peronista tem a ver com erros do governo, acertos da campanha e, principalmente os áudios que surgiram nas últimas semanas e que não foram respondidos pelo governo. Os áudios ligam Karina Milei, irmã do mandatário extremista e Secretária Geral da Presidência, a supostas cobranças de suborno na compra de medicamentos para pessoas com deficiência. Calcula-se que a irmã, considerada o braço direito do presidente, embolsava cerca de US$ 15 mil (R$ 82 mil) por mês com o esquema.

A confiança rompida.

“Hoje [domingo] tivemos uma clara derrota”, disse Milei na sede de seu partido na cidade de La Plata, a capital da província 50 km ao sul de Buenos Aires. “Mas não se retrocede nem um milímetro na política de governo. O rumo não apenas se confirma, mas vamos aprofundar e acelerar mais.”

Leia também:

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Apesar do clima confrontativo, especialistas apontam que houve uma ruptura no vínculo entre Milei e seus apoiadores.

É evidente que o governo Milei encontrou limites, mesmo sendo uma eleição na província de Buenos Aires, tradicionalmente peronista. Para ele, o governo foi surpreendido pelo escândalo envolvendo a irmã do presidente e, sua falta de resposta, foi interpretada como admissão de culpa e paralisou a campanha eleitoral. “Obviamente que a maior aposta de Milei é a economia, mas o governo terá muito trabalho para reverter o clima negativo até 26 de outubro”, afirmou à reportagem. O presidente apoia sua gestão no controle da inflação (de 87% nos primeiros sete meses de 2024 para 17,3% no mesmo período deste ano) e no equilíbrio fiscal.

O governo iniciou a intervenção na semana passada no mercado cambial, oferecendo dólares do Tesouro para combater a desvalorização do peso, que se intensificava nas últimas semanas, mesmo com as altas taxas de juros. Na segunda-feira, a bolsa de valores de Buenos Aires registrou uma queda de 12% e o dólar subiu 4% em relação ao peso argentino.

Lucia Wegelin explica que o controle inflacionário representa apenas uma parte do acordo estabelecido entre Milei e seu eleitorado. A percepção de não fazer parte da mesma casta política corrupta exerceu um forte impacto no país.

“Esta imagem está derretendo, ele não consegue convencer de ser honesto, parece cada vez mais ligado à família Menem, clássica e antiga da política argentina”, explica ela.

Campeão.

A província de Buenos Aires, liderada pelo peronista de centro-esquerda Axel Kicillof, responde por mais de 30% do Produto Interno Bruto argentino e engloba 40% do eleitorado nacional. A eleição substitui 23 cadeiras no Senado e 46 na Câmara dos Deputados da Legislatura provincial.

“Milei, o povo lhe deu uma ordem, não pode governar para os de fora, para as corporações, para aqueles que têm mais. Governe para o povo, não se pode retirar financiamento da saúde, da educação, da ciência e da cultura na Argentina”, disse Kicillof no discurso de vitória.

Fonte por: Brasil de Fato

Autor(a):