Apesar das consequências do aquecimento global já serem sentidas em todo o planeta, o trabalho de deputados federais brasileiros tem favorecido mais o aumento da emissão de gases causadores do efeito estufa do que sua mitigação. Isso é o que aponta um estudo do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem), que analisou o trabalho de 545 parlamentares que estiveram no Congresso durante a legislatura passada, entre 2019 e 2023.
Pesquisadores analisaram mais de 600 votos nominais, 2.4 mil projetos de lei e centenas de discursos durante esses quatro anos. Examinaram se cada uma dessas ações parlamentares apresentava um viés favorável à emissão de gases causadores do efeito estufa ou à redução dessas emissões. Em seguida, sistematizaram esses resultados em uma fórmula matemática, denominada CO2 Index pelo grupo.
O Índice CO2 foi apresentado em palestra pelo autor do estudo, Mateus de Albuquerque, doutor em Ciência Política, durante a Jornada de Agroecologia, realizada no Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, até o domingo (10). O evento sobre agricultura sustentável, com entrada gratuita, contou com feira de produtos da reforma agrária, oficinas, debates e apresentações musicais.
Albuquerque argumenta que a utilização de um indicador auxilia na compreensão de por que as políticas de enfrentamento ao aquecimento global frequentemente se mostram insuficientes. “Todos estamos buscando uma grande invenção que resolva o problema”, declarou. “Isso desvia a atenção dos interesses subjacentes à crise. A pesquisa demonstra isso.”
Conforme o estudo, a Câmara dos Deputados alcançou uma pontuação de 0,75 no CO2 Index durante a última legislatura. Considerando que o índice ficou acima de zero, isso indica que os parlamentares promoveram mais o incentivo à emissão do que à mitigação.
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Emissores e mitigadores
O Índice CO2 também avalia o desempenho de cada deputado em relação ao tema, identificando aqueles que mais influenciaram o aumento das emissões e os que mais se dedicaram à sua redução.
Paulo Ganime (Novo-RJ) foi o principal responsável pelo aumento das emissões. Albuquerque explicou que essa situação é resultado de seu posicionamento consistente favorável à privatização da Eletrobras, projeto que foi considerado emissor de gases do efeito estufa devido ao potencial de gerar desmatamento para a construção de linhas de transmissão.
Ganime concorreu à governadoria do Rio de Janeiro em 2022. Não foi eleito e também não obteve sucesso na disputa pela representação federal.
Alexis Fonteyne (Novo-SP) apresentou a segunda maior emissão, conforme a pesquisa. Ele também não está presente na Câmara na legislatura em curso.
Kim Kataguiri (União-SP) permanece na Câmara. Ele figurou entre os três maiores emissores de carbono, conforme o CO2 Index. A pesquisa o identifica como parlamentar do Democratas, tendo sido eleito pela legenda em 2018.
O deputado que mais contribuiu para o controle do efeito estufa foi Nilto Tatto (PT-SP), com um CO2 Index negativo em mais de 20 pontos. Ele permanece na Câmara.
Ideologia e setores.
Segundo Albuquerque, analisando a lista dos maiores e menores mitigadores, observa-se que os posicionados à direita são aqueles que mais contribuem para o aquecimento global. Ele explicou que isso se deve a posições favoráveis a projetos pensados em benefício do agronegócio e, sobretudo, à desestruturação do Estado.
Deputados com maior emissão de atividades não utilizam chapéus ou estão diretamente ligados ao agronegócio, porém são liberais. Acontece que o ultraliberalismo é antiambiental. A mentalidade anti-Estado desses parlamentares os torna antiambientais, afirmou o pesquisador.
Albuquerque não negligenciou, porém, a importância do agronegócio na agenda que coloca em risco o meio ambiente no Brasil. Conforme a pesquisa do CO2 Index, a grande parte dos projetos identificados como emissores de gases do efeito estufa estava vinculada ao setor agro.
Fonte por: Brasil de Fato