A Bienal de SP inaugura neste sábado com reflexões sobre a humanidade

A edição deste ano é inspirada na obra da poeta Conceição Evaristo e está disponível gratuitamente.

06/09/2025 10:47

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A Bienal de SP inaugura neste sábado com reflexões sobre a humanidade
(Imagem de reprodução da internet).

Inspirada na obra “Da Calma e do Silêncio”, da poetisa Conceição Evaristo, a Bienal de São Paulo abre suas portas neste sábado (6), no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, do Parque Ibirapuera, na capital paulista, reunindo 125 artistas e coletivos. A exposição, gratuita, permanecerá em cartaz até o dia 11 de janeiro. Trata-se da edição mais longa da Bienal em sua história. A presidente da Fundação Bienal de São Paulo, Andrea Pinheiro, declarou que a expansão do período expositivo para quatro meses visa aproveitar o período de férias escolares e incentivar a visitação do evento por mais pessoas.

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Nas últimas edições, a Bienal recebeu mais de 700 mil visitantes, reafirmando seu lugar como o maior evento de arte contemporânea do Hemisfério Sul. “Com um amplo espaço de encontro, a Bienal é marcada pela diversidade, não só de artistas, mas também de produtores. A mostra e toda sua programação são completamente gratuitas. Esse é um ponto surpreendente”, destacou a presidente da Fundação Bienal.

A Bienal foi estendida por mais quatro semanas, com visitação até o dia 11 de janeiro, para ampliar este projeto tão significativo, incluindo o período de férias escolares, que é um período super importante para os museus de São Paulo. A presidente da Fundação Bienal destacou que, para este ano, o objetivo é não só ampliar o público visitante, mas também expandir as atividades educativas.

Na última Bienal, quase 70 mil crianças foram atendidas neste pavilhão pelo nosso programa educacional. Este ano, ampliamos esses esforços de captação para estabelecer uma nova meta de 100 mil crianças [participando das atividades educativas] no pavilhão. Fora isso, treinaremos 25 mil professores da rede pública, mais do que os 18 mil da última Bienal. E isso tem um impacto enorme em mais de 1 milhão de crianças aprendendo os conteúdos que nós divulgamos.

“A humanidade como prática.”

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Sob o título “Nem todo viandante anda estradas”, a Bienal de Artes propõe um repensar da humanidade, inspirada na reflexão de Conceição Evaristo (“Nem todo viandante anda estradas, há mundos submersos, que só o silêncio da poesia penetra”). A curadoria geral é de Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, com co-curadoria de Alya Sebti, Anna Roberta Goetz, Thiago de Paula Souza, Keyna Eleison e da consultora de comunicação e estratégia Henriette Gallus.

“O poema de Conceição Evaristo, Da Calma e Do Silêncio, nos faz questionar essa trajetória em que a humanidade está viajando”, explicou Bonaventure Soh Bejeng Ndikung. “Atualmente, essa viagem ameaça uns aos outros com armas nucleares. Há também a viagem da fome, de manter as pessoas passando fome embora tenhamos tantos grãos e tantos silos no mundo todo. Há pessoas que não têm onde morar. Temos também a jornada do colonialismo e de escravizar pessoas. Então, nós aqui estamos refletindo sobre que outros caminhos podemos seguir”, acrescentou.

Apesar desse avanço do projeto de desumanização e de outras emergências no mundo atual, como as guerras, Ndikung se declara otimista e aponta a arte como uma maneira possível de enfrentar essas violências e resistir à destruição. “A arte nos dá a possibilidade, a sensibilidade e as ferramentas para reconsiderarmos o mundo no qual vivemos”, avalia.

Em coletiva à imprensa, Ndkung enfatizou que uma das características do ser humano é a empatia, apontando que este é um dos temas presentes na Bienal deste ano. Para ele, é necessário não apenas sentir a dor do outro, mas também compartilhar de suas alegrias e celebrações. “Ser humano é superar a indiferença diante da dor dos outros e compreender quais são as causas dela. Ser humano é ter consideração, ter compaixão, é abraçar as multiplicidades internas. É reconhecer que nas ruínas e nos escombros da nossa destruição, há abundância. É pensar na riqueza que vai além do termo capitalista. Ser humano não é ser passivo. É uma prática ativa”.

O curador Thiago de Paula Souza recorda: “Nosso principal objetivo é pensar como a arte contemporânea pode nos guiar na construção de outros imaginários políticos e exercer a nossa própria humanidade”. Ele complementa: “Acho que é por isso que convidamos tantos artistas para tentarmos responder a isso. Temos artistas do Japão, do Marrocos, do Brasil. Cada um desses contextos propõe novas reflexões”.

“Deslocamentos e movimentos migratórios”

Uma das grandes discussões nesta edição da Bienal é a reflexão sobre os deslocamentos e fluxos migratórios. A equipe conceitual se inspirou nos fluxos migratórios das aves como guia para a seleção dos artistas participantes. “Assim como as aves, também carregamos memórias, experiências e linguagens ao cruzar fronteiras. Migramos não apenas por necessidade, mas como forma de transformação contínua”, diz o texto de apresentação da Bienal.

De acordo com os organizadores da exposição, os expositores da Bienal vêm de regiões atravessadas por rios, mares, desertos e montanhas, cujas águas e margens acompanham histórias de migração, resistência e coexistência. E é essa força transformadora dos rios e da natureza que irá permear toda a exposição do evento, projeto assinado por Gisele de Paula e Tiago Guimarães. Portanto, a concepção da Bienal foi pensada sob a metáfora de um estuário.

O estuário é esse encontro de águas, por exemplo, de água doce com a água salgada. Costumam ser lugares muito férteis, onde a vida é abundante. Então, acho que essa é uma boa metáfora para gente pensar como imaginamos o espaço da Bienal. Queremos que ele seja um espaço muito abundante de vida, ressalta Thiago de Paula Souza.

A obra foi segmentada pelos curadores em seis capítulos. Títulada Frequências de chegadas e pertencimentos, o primeiro deles começa com um extenso jardim, projetado no térreo, com uma criação de Precious Okoyomon. A instalação apresenta uma topografia irregular, fazendo com que o visitante passe por entre pequenas quedas d’água, lagos e áreas acidentadas. Entre as plantas presentes, há espécies medicinais, comestíveis e invasoras que vêm das Américas, do Caribe e, sobretudo, do Cerrado brasileiro.

Nesse jardim vibrante, onde pedras, água, plantas e luz se combinam, Precious sugere que essa vivência representa um convite ao repouso e à reflexão.

Os artistas criam obras que expressam ideias e sentimentos.

A lista de artistas abrange aqueles que utilizam linguagens como performance, vídeo, pintura, som, instalação, escultura, escrita e experimentações coletivas e musicais, entre outras. Diversos participantes também propõem investigações fundamentadas em práticas comunitárias, ecologias, oralidades e cosmologias não ocidentais. Serão apresentados obras de 120 artistas no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Ibirapuera, enquanto outros cinco artistas exporão suas obras na Casa do Povo, na região da Luz.

Além das exposições, a Bienal também propõe debates, performances e um projeto chamado Aparições, no qual os participantes poderão baixar um aplicativo para utilizar recursos de realidade aumentada em diversos locais do mundo, como o Parque Ibirapuera, a fronteira entre México e Estados Unidos e às margens do Rio Congo. Mais informações sobre o evento estão no site da Bienal.

Com informações da Agência Brasil.

Fonte por: Jovem Pan

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